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o tarô e as mulheres artistas

  • Foto do escritor: Prida
    Prida
  • 18 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de nov. de 2017


Há tempos que uso quase exclusivamente o Rider Deck em minhas tiragens, também conhecido como Tarô Waite, nome do seu criador; mas anteriormente usei bastante o Tarot Thoth projetado por Aleister Crowley. No entanto, foi no deck de Waite que me identifiquei. Acredito que o mistério dos encontros tem a ver com verdades cármicas que muitas vezes não conseguimos acessar com objetividade, apesar da intuição nos levar a estes enlaces. Atualmente uso também o After Tarot, de Corrine Kenner, inspirado no clássico Waite mas apresentando os arcanos em ações sutilmente diferentes, como se a cena tivesse sido captada alguns segundos depois do instante que é mostrado no Waite. Mas o que estes três decks têm em comum além de serem belíssimos graficamente? Os três foram desenhados por mulheres artistas e isso é algo que, para mim, não passa desapercebido!


Dos três, o mais antigo é o The Rider Tarot Deck, criado em 1910 por Arthur Edward Waite e ilustrado pela artista Pamela Colman Smith, conhecida ilustradora de livros infantis que também participou de outras atividades culturais e experimentais de arte e poesia em sua época. Tudo indica que foi mesmo Pamela quem desenhou as cartas, com sua intuição e delicadeza gráfica, sendo ela então a responsável pela criação de um dos baralhos mais influentes da contemporaneidade. Ela provavelmente foi uma mulher independente e questionadora dos valores conservadores, passou sua adolescência em Paris, sendo influenciada pelos movimentos das vanguardas artísticas da época tanto em sua arte quanto em sua forma de viver com autonomia. Não se casou, e isso é algo que chama a atenção numa mulher do início do século XX, mesmo sendo ela uma artista.

O Tarô de Crowley & Harris, também conhecido como Tarô de Thoth, foi criado entre 1938-1943 e publicado em 1944, num momento já pós II guerra mundial. A artista responsável pelo projeto gráfico foi Lady Frieda Harris. Ela aplicou o modelo denominado Traçado de Bordas para justificar uma simetria de linhas e traços geométricos nas cartas deste deck. Este desenho se baseava no Projective synthetic geometry, resultante das ideias de Goethe e Steiner, algo em voga naquele período em que a arte abstrata e geométrica (Bauhaus, construtivistas, neoplasticismo etc.) já era aceita nos círculos de artes visuais mais modernos e era mesclada com aspectos espirituais (Kandinsky e Paul Klee), científicos e místicos (surrealistas, dada, futuristas etc.). Segundo o próprio Crowley, inicialmente a intenção era criar um baralho tradicional, mas foi Harris quem o encorajou a agregar os aspectos místicos, mágicos, espirituais e científicos nas cartas. Segundo Cláudio César de Carvalho, ela também escreveu dois ensaios para exibição das cartas, "o primeiro baseado nos escritos de Crowley, e o segundo de acordo com seu ponto de vista sobre o Tarô, especificamente para a exposição nas galerias de arte de Berkeley, Londres em Agosto de 1942, sem aquiescência de Crowley". Isso mostra a postura da artista em relação ao trabalho encomendado, que em determinado momento perde um pouco sua funcionalidade especifica como objeto de uso para divinação e atividades místicas e se torna, para a artista, objeto poético e artístico. Harris e Crowley parecem ter seguido em contato por toda a vida, porém nenhum dos dois chegou a ver o baralho impresso em 1944. A complexidade e sofisticação da arte de Harris faz com esse deck esteja mais para um conjunto poético de imagens do que para um compêndio gráfico com finalidade e uso objetivos. Sua poesia jamais pode ser questionada.


O último e mais recente de todos é o After Tarot, criado e desenhado por duas mulheres, Corrine Kenner e Giulia Francesca Massagia. Massaglia desenhou outros decks como o Mucha Tarot e o Romantic Tarot. No After, o trabalho conjunto destas duas mulheres criou um baralho interessantíssimo de uma lindeza indiscutível. Sou muito fã! Pois além de toda a beleza visual, o After Tarot, oferece um ponto de vista a mais pra quem usa o Waite, e isso foi o que me interessou logo de cara. Em alguns arcanos minha percepção e intuição são afinadas com a das autoras, mas em outras confesso que me surpreendeu e me deu chance de repensar o arcano, concordando ou não com a visão do After.

Giulia F Massaglia vive numa época com ótimas condições de trabalho para produzir criativamente. mas nunca devemos esquecer que nós, mulheres artistas da atualidade, devemos tudo às Pamelas e às Friedas do nosso passado, que superaram as expectativas de seu tempo que determinavam o que fazer ou ser. Até meados do século XX a mulher criativa só tinha uma saída, ser mãe. Por querer criar fora do biologicamente esperado, tiveram que desobedecer a ordem vigente e forjar novos caminhos às custas de muita dor, humilhação e pressão social. Todas temos a Imperatriz guiando nossa arte, mas as mulheres artistas, antes de nós, tiveram também o arcano da Torre conduzindo seus caminhos!



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