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Naipe de espadas e a iluminação

  • Foto do escritor: Prida
    Prida
  • 24 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

O naipe de espadas geralmente é interpretado como prenúncio de crise e dificuldade, e por isso causa calafrios, principalmente nos leigos, quando sai numa tiragem. É por estar associado ao elemento ar que espadas nos conduz ao plano mental, ao pensamento e à frieza nas ações. Há pouco tempo li um artigo de Marcelo Bueno (O naipe de espadas e as quatro nobres verdades) no clube do tarô que foi definitivo para minha comprensão deste naipe, o autor associava de forma inédita, pelo menos para mim, o naipe com alguns preceitos budistas. Minha mente se abriu! como se o próprio às de espadas caísse ali na minha frente, e compreendi muitas coisas para melhor interpretar este naipe.

Sou budista há alguns anos, tomei refúgio no budismo Vajrayana em 2015 e sigo a tradição Nyingma de meu querido Lama. Por estar familiarizada com as problematizações da mente que o budismo coloca em evidência, pude entender a dificuldade e o medo que o naipe de espadas causa. Geralmente, quando pensamos na mente, logo a associamos com a inteligência, e isso é bom e suficiente para nós no ocidente. Mas no budismo tibetano aprendemos que devemos controlar nossa mente comum pois ela é o verdadeiro inimigo, pois é através dela, e do conhecimento vulgar que temos da realidade, que ficamos presos no sofrimento do Samsara. Aprendemos através da meditação e da prática a acalmar a mente e gerar a Bodichita, que nada mais é que o amor e compaixão por todos os seres do samsara (todos, não apenas pessoas queridas e animais fofos; todos, ou seja, seres infernais, espíritos perdidos, animais estranhos, perigosos, asquerosos, pessoas que nos despertam desprezo e assim por diante). Claro que amar e respeitar nossos amigos, familiares e pessoas que julgamos boas é relativamente fácil, mas ter verdadeira compaixão por aqueles que nos causam repulsa, esse é o maior desafio, e para lográ-lo só mesmo desapegando de conceitos arraigados e de percepções equivocadas. Isto é, desapegando de quase tudo que aprendemos nessa sociedade individualista e pouco generosa, que nos ensina a acreditar em nós mesmos em primeiro lugar. No budismo há um dito muito popular que nos ensina que toda dor da humanidade vem do desejo de sermos felizes, e toda alegria virá do desejo de fazermos os outros felizes.

Onde quero chegar? A prática budista é dura, difícil e complicada (assim como o naipe de espadas); o caminho é tão acidentado que não são poucos os que enfraquecem no meio da jornada e a abandonam, ou quase desistem do Darma. Eu mesma fui e voltei algumas vezes. A mente comum nos coloca no mundo, nos faz acreditar que sou um indivíduo autônomo que merece ser feliz a qualquer custo, que você é você e que cada coisa no seu lugar existem de forma independentes; essa mente comum que nos proporciona subjetividade, reflexão, introspecção e inteligência é o que nos afunda na ignorância do Samsara, em inumeráveis ciclos de vida, de morte e de renascimento, e nos afasta inexoravelmente da iluminação. Só vamos despertar quando compreendermos o que é a vacuidade, que nada mais é que a inexistência independente de todas as coisas e seres. O vazio, a não existência que o budismo prega, não é o significante de que as coisas não existem, mas que elas não existem fora de nossa mente, e por isso estão todas, absolutamente todas, conectadas entre si. Quando conseguirmos não apenas compreender a vacuidade, mas realizá-la, teremos despertado a bodichita em nós, pois na medida em que soubermos de fato que não há separação entre o outro e nós, iremos sofrer e nos alegrar na mesma medida, pois seremos uno verdadeiramente.

Não é atoa que o Budha da sabedoria transcendente no Vajrayana é Manjushri, e seu instrumento é a espada. Concluindo, é na luta com a mente que vamos despertar. Colocar a mente comum em crise (espadas) é o único caminho para o Nirvana e isso é muito complicado pois precisaremos ser “frios" o suficiente para não cair na sedução dos apegos (moedas), impulsos (paus) e desejos (copas), todos tão sedutores e aparentemente inofensivos…



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